A MUSICOTERAPIA COMO FERRAMENTA DE MELHORIA DE QUALIDADE DE VIDA DA TERCEIRA IDADE A PARTIR DA PRÁTICA CORAL- Caroline Fróes deSousa Peixoto

A MUSICOTERAPIA COMO FERRAMENTA DE MELHORIA DE QUALIDADE DE VIDA DA TERCEIRA IDADE A PARTIR DA PRÁTICA CORAL

Caroline Fróes de Sousa Peixoto[1]
Nydia do Rego Monteiro[2]

RESUMO - O presente artigo irá abordar sobre a Musicoterapia, ciência recente e desconhecida do grande público, e pretende mostrar os benefícios da mesma a fim de se obter melhoria de qualidade de vida, a partir da prática coral desenvolvida com pessoas da terceira idade. A Musicoterapia tem despertado a atenção no meio médico e terapêutico, devido a seus resultados e à grande possibilidade de indicações de tratamento; e a prática coral, sendo uma das atividades que pode ser desenvolvida dentro desse segmento, aparece como importante aliada para a promoção de qualidade de vida entre os idosos, uma vez que ela consiste numa ferramenta importante de socialização, relação interpessoal e afetiva, e no auxilio do desenvolvimento de potencialidades físicas que o indivíduo vai perdendo no decorrer da vida. A prática coral como atividade musicoterapêutica pode beneficiar idosos que estejam necessitando de crescimento, alívio, apoio, reabilitação ou de um tratamento preventivo, e vai além de questões musicais, convertendo-se numa atividade que envolve a sociologia, a psicologia, a antropologia, a fonoaudiologia, dentre outras ciências, propiciando as pessoas da terceira idade a se colocarem em situações que os conduzam ao aprendizado e desenvolvimento de relações com a música, com os outros e com eles mesmos.

PALAVRAS-CHAVE: Musicoterapia, qualidade de vida, terceira idade.


INTRODUÇÃO
A população idosa é a de maior crescimento hoje no país, segundo Neri (2004); e é nessa faixa etária que problemas como depressão, solidão, enfermidades decorrentes da idade, perda da auto-estima, dentre outros fatores, aumentam cada vez mais entre os idosos, o que explica a criação de programas em diversas instituições governamentais e não governamentais voltados para a melhoria da qualidade de vida da terceira idade.
É nessa fase da vida que a necessidade de recursos para envelhecer com saúde são indispensáveis, e muitos desses problemas do cotidiano que afetam consideravelmente o grupo da terceira idade, podem ocasionar um envelhecimento de forma não saudável. Segundo Neri:
velhice bem-sucedida é “uma condição individual e grupal de bem-estar físico e social, referenciada aos ideais da sociedade, às condições e aos valores existentes no ambiente em que o indivíduo envelhece, e às circunstâncias de sua história pessoal e de seu grupo etário”. (1995, p. 34)
De acordo com Zanini (2003, p. 25), a velhice deve ser entendida como uma etapa da vida, da mesma forma que temos a infância, a adolescência e a maturidade. São fases, etapas da vida, nas quais acontecem modificações que afetam a relação do indivíduo com o meio, com o outro e com ele mesmo.
Referente à qualidade de vida na terceira idade, esta, pode ser considerada boa e compensadora quando engloba pelo menos quatro áreas: social, afetiva, profissional e a que se refere à saúde, mas muitos na velhice, não têm a oportunidade e o acesso a essas quatro áreas.
Sobre saúde, Bruscia diz que “ela é holística, indo além do corpo para incluir a mente e o espírito, e indo além do indivíduo para incluir a sociedade, a cultura e o meio ambiente em que vive” (2000, p. 90).
Diante disso, tendo em vista os recursos buscados em benefício da melhoria de qualidade de vida da terceira idade, como atividades físicas, culturais, artísticas, lúdicas, terapias para vários fins, etc. têm-se “o uso da música como agente para combater enfermidades” (BENENZON, 1985, p.165).
Visto que a música pode contribuir na estruturação do ser humano, provocar sensações e reações e conseguir fazer com que as pessoas se emocionem; pode-se considerá-la importante mediadora no processo de integração do idoso com a sociedade, com outros indivíduos e com ele mesmo.
Ao ser incluída, a pessoa passa a estabelecer e manter um relacionamento estável com outras pessoas, realizando trocas matérias e simbólicas, que influem em seu autoconceito e desenvolvem sua sociabilidade. A necessidade de controle, por sua vez, consiste em influenciar o comportamento das outras pessoas, o que faz o indivíduo sentir-se importante naquele grupo social. A afeição, finalmente, é um prolongamento da necessidade de inclusão, ou seja, além do senso de pertencimento ao grupo, a pessoa se sente amparada por outras em termos psicológicos (FUCCI AMATO, 2008, p.2).
Além dos muitos benefícios que a música apresenta para as pessoas da terceira idade, como auxiliar no combate de enfermidades, de acordo com Von Baranow ela “é, sem dúvida, reconhecida como meio terapêutico, desde a Antiguidade até nossos dias” (1999, p. 1).


DEFININDO MUSICOTERAPIA
A música vai além de padrões especificamente técnicos, e conforme o mencionado anteriormente, se apresenta também como terapia, com objetivos a serem alcançados, de acordo com os problemas e/ou dificuldades de um determinado cliente ou grupo; como o grupo da terceira idade.
A partir desse ponto de vista, conforme Von Baranow tem-se o conceito de uma terapia diferenciada, que utiliza os sons em prol de benefícios para diversos tipos de problemas ou necessidades, a Musicoterapia.
Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ou restabelecer funções do indivíduo para que ele/ela possa alcançar uma melhor integração intra e/ou interpessoal e, em consequência, uma melhor qualidade de vida, pela prevenção, reabilitação ou tratamento. (VON BARANOW, 1999, p. 5).
Com estudos a cada dia mais intensos e avançados, as terapias são cada vez mais aprimoradas, necessárias, valorizadas e se fazem presentes de várias formas na sociedade; algumas, como a Musicoterapia, mesmo sendo uma ciência recente, está em constante crescimento e desenvolvimento e apresenta-se como uma “ferramenta que auxilia os seres humanos a conquistarem uma melhor qualidade de vida, através do auto conhecimento e autocontrole, ajudando a reestabelecer o equilíbrio integral (físico, psicológico e social) das pessoas com necessidades, patologias e problemas diversos”. (VON BARANOW, 1999)
Para Kenneth Bruscia ((Improvisational Models of Music Therapy) apud VON BARANOW, 1999, p. 5-6):
Musicoterapia é um processo orientado no qual o terapeuta ajuda o cliente a melhorar, manter, ou restaurar um estado de bem-estar, utilizando experiências musicais, e as relações que se desenvolvem através destas, como forças dinâmicas de mudanças. O terapeuta ajuda o cliente através de contribuição, tratamento, e processo de avaliação. Aspectos do bem-estar do cliente que podem ser trabalhados através da musicoterapia incluem uma grande variedade de problemas ou necessidades mentais, físicas, emocionais e sociais. Em algumas instâncias, estes problemas ou necessidades são acessados diretamente através da música, e em outros casos, por meio da relação interpessoal que se desenvolve entre terapeuta e cliente e/ou grupo.
Segundo Maristela Smith (apud VON BARANOW, 1999, p. 7):
A Musicoterapia, ciência que utiliza elementos sonoro-rítmico-musicais no tratamento, reeducação, reabilitação e recuperação de indivíduos portadores das mais diversas patologias ou ainda na área preventiva, procura estabelecer uma relação de equilíbrio entre as três áreas da conduta humana: mente, corpo e mundo externo.
Desse modo a musicoterapia pode ser desenvolvida de várias formas, envolvendo “o cliente e o terapeuta em um grande número de experiências musicais. A principais são: improvisação, performance, composição, notação, verbalização e audição musical” (p. 5).


MUSICOTERAPIA, PRÁTICA CORAL E QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE
Independente da faixa etária que o indivíduo esteja enquadrado, a vida em sociedade é uma necessidade da natureza do homem; toda pessoa necessita de afeto, atenção e respeito, mas na terceira idade, alguns desses valores vão sendo perdidos, ocasionando além das perdas das potencialidades decorrentes por conta da idade, como falhas ou perdas de memória, coordenação motora, dificuldade na respiração e na locomoção; problemas como solidão, estresse e depressão, muito comuns nessa fase da vida.
Diante disso, a Musicoterapia com um leque de atividades que podem ser desenvolvidas, pode contribuir de maneira significativa na melhoria da qualidade de vida da terceira idade, e dentre as atividades que podem ser desempenhadas com os idosos, a prática coral ocupa lugar de destaque uma vez que pode integrar vários fatores propiciadores de qualidade de vida.
Segundo Zanini, a prática coral ajuda e norteia a pessoa idosa num conjunto de situações:
o cantar na Terceira Idade pode proporcionar a descoberta de novas possibilidades para o indivíduo, pois existem atividades que deixamos de vivenciar no decorrer de nossas vidas por falta de tempo, pelo acúmulo de stress aliado à necessidade de sobrevivência e, até mesmo, por não termos acesso ou oportunidade (2000, p.3).
A prática coral é uma atividade cultural, social e humana, que além de proporcionar a vivência e prática de cantar através de uma terapia grupal, ampara em vários caminhos no processo de qualidade de vida de um idoso, ajudando a crescerem intelectualmente, exercitando não só o corpo, mas a mente, e também na melhoria da respiração, no desenvolvimento do raciocínio, da memória e da coordenação motora através do senso rítmico e melódico. “O som, o ritmo e o movimento são capazes de agir sobre o físico e o psíquico (...)” (VON BARANOW, 1999, p. 19).
Conforme o autor mencionado acima:
Os efeitos fisiológicos dos elementos sonoros-rítmicos-musicais podem ocorrer como reações sensoriais, hormonais e fisiomotoras, e como efeitos psíquicos podem desencadear descargas emocionais em graus variáveis, dependendo do individuo, levando-o a se expressar perante os sons e músicas apresentados ou executados que podem alterar seu comportamento e modos de interação com o mundo que o cerca (VON BARANOW, 1999, p. 19).
Cabe ressaltar que as melhorias são visíveis não só na memória, respiração, raciocínio e coordenação motora, mas também na comunicação, na capacidade de resolver problemas da linguagem e do cotidiano, potencialidades que vão sendo comprometidas ao longo do envelhecimento, muitas vezes decorrentes também, da inatividade do idoso, gerada na maioria das vezes pela aposentadoria.
A Musicoterapia aplicada através da prática coral, envolvendo alongamentos, aquecimentos vocais e corporais, canções populares, folclóricas, regionais, religiosas, dentre outras; amplia e liberta a afetividade, criatividade, imaginação, expressividade, integração, socialização, reconhecimento, aprendizagem e consciência musical, autocontrole, equilíbrio emocional, bem-estar, assim como melhoria na própria auto-estima dos idosos, estabelecendo relações de amizade, hierarquia, valores humanos, veículos de fortalecimento das relações interpessoais, e consequentemente melhoria no estresse, depressão, isolamento social e na perda da auto-estima, muitas vezes advindos por conta de não se sentirem mais úteis à sociedade pela inatividade decorrente da idade.
De certo, as atividades em grupo minimizam os efeitos do envelhecimento e podem contribuir para a melhora da qualidade de vida do idoso. Como diz Garmendia “a experiência musical em sua totalidade está consubstanciada com a vida afetivo-emocional. É também capaz de ajudar na criatividade, socialização, memória e atenção” (GARMENDIA, 1981, p. 2).
Vale ressaltar que a prática coral com idosos deve ter como alvo principal os próprios participantes, devendo ser direcionada para promoção da qualidade de vida. Dessa maneira, mesmo com as limitações humanas, musicais, etc., o importante é que haja integração de todos para um desenvolvimento de um trabalho que deve ser feito da melhor maneira possível, pois a construção do trabalho em conjunto, bem como a satisfação coletiva pela realização do que se propôs a fazer, é um elemento importante para a sociabilidade e qualidade de vida. Diante disto, o musicoterapeuta não basta ser bom músico, uma vez que os objetivos envolvidos na terapia musical com idosos não são estritamente performáticos.
Relacionado ao exposto, Von Baranow diz que a “Musicoterapia não é Educação Musical”, na qual “visa ensinar música ao individuo, a música estruturada”. “A Educação Musical é pedagógica, seu objetivo é ensinar, desenvolver e aperfeiçoar os elementos musicais, despertando o potencial musical no indivíduo, visando uma melhor expressão artística-estética. (VON BARANOW, 1999, p. 17).
O objetivo da Musicoterapia não é pedagógico mas sim terapêutico e uma terapia tem por objetivo ajudar, atender ou tratar um indivíduo. Ela visa o desenvolvimento de um processo facilitador que promova comunicação, relação, expressão e organização, além de restaurar e melhorar a saúde integral do indivíduo, ou seja, física, menta e o relacionamento social. A Musicoterapia é um “processo de tratamento” para desenvolver potenciais ou estabelecer funções do indivíduo visando melhorar sua qualidade de vida. (VON BARANOW, 1999, p. 17-18).
Com isso, a Musicoterapia através da prática coral com idosos, é sem dúvidas, uma poderosa ferramenta a ser usada na conquista da saúde física, mental, emocional e social, apresentando-se como um instrumento facilitador de melhoria da qualidade de vida da terceira idade, em que a Música é vista além dos parâmetros já convencionados, mas como forma de terapia capaz de promover o bem-estar do corpo e da mente.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Musicoterapia, mesmo sendo uma ciência recente, apresenta-se como uma “ferramenta que auxilia os seres humanos a conquistarem uma melhor qualidade de vida, através do auto conhecimento e autocontrole, ajudando a reestabelecer o equilíbrio integral (físico, psicológico e social) das pessoas com necessidades, patologias e problemas diversos”. (VON BARANOW, 1999).
A gama de possibilidades na qual a Musicoterapia pode ser desenvolvida é grande, e dentro dessas, a prática coral, pode ser um importante agente na melhoria da qualidade de vida dos idosos, contribuindo no despertar de potencialidades que vão sendo comprometidas no decorrer do envelhecimento, bem como também na parte psíquico-emocional; problemas que fazem com que os idosos percam sua vida ativa.
Assim sendo, quanto mais se exercita o cérebro e o corpo todo, mais chances se têm de ter uma vida melhor por mais tempo, e a Musicoterapia como uma “terapia que não utiliza apenas a música, mas os sons e os movimentos para facilitar a expressão emocional e corporal dos indivíduos num contexto terapêutico” (VON BARANOW, 1999), pode contribuir na promoção da qualidade de vida da terceira idade, que para os idosos está relacionado ao bem estar, à auto-estima, à realização pessoal e à felicidade.











Referências Bibliográficas
BENENZON, Rolando O. Manual de Musicoterapia/ Rolando O. Benenzon; tradução de Clementina Nastari – Rio de Janeiro: Enelivros, 1985.

BRUSCIA, Kennethn E. Definindo Musicoterapia/ Kenneth E. BRUSCIA. Tradução Mariza Velloso Fernandez Conde. – 2 ed. – Rio de Janeiro; Enelivros, 2000. 332 p.

FUCCI AMATO, Rita de Cássia. O desenvolvimento da motivação na gestão dos recursos humanos em corais: conceitos e práticas. Anais do SIMCAM4 – IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais, maio 2008.

GARMENDIA, Emma. Educacion Audioperceptiva: bases intuitivas en el proceso de formación musical. Buenos Aires: Ricordi, 1981.

MARQUES, Heitor Romero [et al.]. Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico. Campo Grande: UCDB, 2006.

NERI, A.(org.) Psicologia do envelhecimento. Campinas, SP: Papirus, 1995. 276p.

NERI, Anita Liberalesso; CACHIONI, Meire. Velhice bem-sucedida e educação. In: _______. Velhice e sociedade. 2ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2004.113-140.
XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM) Brasília – 2006. Trabalho aceito pela Comissão Científica do XVI Congresso da ANPPOM - 60 -

VON BARANOW, Ana Léa Vieira Maranhão. Musicoterapia: Uma Visão Geral/ Ana Léa Vieira Maranhão Von Baranow. – Rio de Janeiro: Enelivros, 1999. 96 p.

ZANINI, Claudia Regina de Oliveira. O cantar e a terceira idade. Nova Geração. Goiânia, Ano III, n.12, p.3, julho. 2000.

_______. Envelhecimento saudável – o cantar e a Gerontologia social. In: Revista UFG, Goiânia, n. 2, ano V, 2003, p. 25-29.


                                    





[1] Aluna do Curso de Especialização em Musicoterapia da Universidade Federal do Piauí-UFPI.
[2] Prof.ª do Curso de Especialização em Musicoterapia da Universidade Federal do Piauí-UFPI.

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